Operação Fura-Fila cumpre medida de afastamento de vice-prefeito, secretários e vereadores de Vera Cruz
O Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) – Núcleo Saúde, com o apoio da Polícia Civil e da Brigada Militar, cumpriu, na manhã desta terça-feira, 05, mandados de afastamento do vice-prefeito de Vera Cruz, Alcindo Francisco Iser, dos secretários municipais da Saúde, Eliana Maria Gihel, e do Desenvolvimento Rural e Meio Ambiente, Martin Fernando Nyland, bem como dos vereadores Eduardo Wanilson Martins Viana e Marcelo Rodrigues Carvalho, além de ordens judiciais para a suspensão do exercício da função pública dos assessores parlamentares da Câmara de Vereadores Gelson Fernandes Moura, Guilherme Matheus Oziemblovski e Anselmo Eli Ferreira Júnior, da secretária Municipal de Saúde, Adriane Mueller, e da diretora-geral da Câmara de Vereadores, Ilse Miguelina Borges Riss. Entre os 27 mandados da Operação Fura-Fila, quatro foram cumpridos em locais de trabalho de médicos. Dois deles em Santa Cruz do Sul, um em Vera Cruz e outro em Santa Maria.
Após a ação o coordenador do Gaeco Saúde, João Beltrame, e a promotora de Justiça de Vera Cruz, Maria Fernanda Cassol Moreira, concederam entrevista coletiva à imprensa. Também participaram da coletiva o coordenador do Núcleo de Inteligência do Ministério Público e Siscrim/Gaeco, Diego Rosito de Vilas, e o capitão da Brigada Militar Rafael Menezes.
“Essas pessoas envolvidas na fraude passavam seus apadrinhados na frente, por questões políticas, por questões de poder. Um caso que nós apuramos é de um paciente oncológico que foi atendido em uma semana. O paciente esperou sete dias, enquanto outro, também com câncer, está há quase três anos na fila à espera de uma biópsia. Há um prejuízo enorme aos munícipes que procedem corretamente. Hoje, na busca, isso ficou claro, encontramos diversos documentos, cópias de cartões do Sus, receitas e pedidos de exames em uma gaveta na Câmara de vereadores”, explicou João Beltrame.
Segundo Maria Fernanda Cassol Moreira, “não há só o crime, mas a improbidade administrativa também. Ficou evidente que, muitas vezes, se usava recursos públicos, seja pra pagar consultas para os beneficiados ou para transportar essas pessoas para consultas ou perícias. Assessores do legislativo faziam esse transporte, quando deveriam estar trabalhando na Câmara”.
Durante a entrevista coletiva, Diego Rosito de Vilas ressaltou a importância da parceria entre as instituições. “Quero agradecer a Brigada Militar e a Polícia Civil pela atuação conjunta. As instituições precisam trabalhar dessa forma organizada. Hoje, temos aqui mais uma vez o resultado dessa parceria”, disse.
O ESQUEMA
Conforme as investigações, os vereadores, em conluio com o vice-prefeito, a secretária de Saúde, a servidora da secretaria de Saúde e o secretário de Desenvolvimento Rural e Meio Ambiente, promoveram um "fura-fila" nos atendimentos da saúde no município de Vera Cruz.
Tendo como objetivo proveito político e pessoal, eles cadastravam nos sistemas de regulação de consultas e procedimentos médicos pacientes que eram apadrinhados políticos como sendo prioritários, quando na verdade não eram, deixando sem atendimento a população de Vera Cruz que não possuía compadrio.
O grupo agia no sistema de agendamento do SUS, o Sisreg III, bem como no de regulação de consultas do Estado (Gercon) e no do Cisvale – Consórcio Intermunicipal de Saúde do Vale do Rio Pardo, o qual deveria ser utilizado somente para casos especiais.
Ainda, apadrinhados políticos recebiam cascalho, terra, brita e areia do Município, além de serviço de horas da máquina da prefeitura sem a devida contraprestação do beneficiário. Para os que não tinham ligação partidária com o grupo, o encaminhamento era para que fosse seguido o procedimento correto, que dependeria de cadastro no Município, requerimento e contraprestação.
Fotos: PG Alves/MPRS